sábado, 6 de novembro de 2010

Saudade da senhorita fodona


Texto dedicado a ilustríssima Paula Velôzo, senhorita fodona, minha Mãe, o que acharem melhor...

Saudade, tanto falada e jamais decifrada... Sou um cara bem calejado com isso, uma experiência vivida aos 9 anos me tirou um pouco desse sentimento, digo o porquê...

Amadureci uns 5 anos em um ano. Nessa época (2003) eu sentia saudade, MUITA saudade! Foi esse ano que aprendi a viver independente, ser "safo", acender o fogão, voltar da escola sozinho... Período bom, boas maloqueiradas. Em Candeias jogava bola na rua com meus amigos, tirava caju pra assar as castanhas, trepava em árvores, caía na lama ao jogar queimado, jogava bolinha de gude, dava umas porradas por aí, enfim na liberdade tava tudo valendo. Porém é inegável, a minha mãe eu não tinha comigo. Onde estava ela? Tava toda linda, toda fodona, na Espanha (em Barcelona mais precisamente) fazendo seu mestrado, visando seu futuro como profissional, e acima de tudo como PESSOA.

Ao mesmo tempo que a liberdade foi desfrutada - na era das maloqueiragens - nós sofremos um pouco... Como a verba era pouca, contadíssima (minha mãe teve que doar óvulos pra se manter na Espanha) a internet era discada e os cartões telefônicos custavam o olho da cara; a comunicação era dificílima, cresceu entre nós um sentimento de angústia, MUITA angústia. Depois de uma certa dificuldade finalmente chegava o grande momento, minha mãe na lan-house era sinônimo de festa... Festa? Sim... As farras familiares eram marcadas pro fim de semana (dia em que a tarifa da internet discada era mais barata), "O" dia de falar com Paula. Era gente, cachorro, pato, galinha, papagaio e periquito, todos reunidos lá em casa numa verdadeira conferência.

A intimidade não rolava, as conversas eram superficiais... Tudo podia até conspirar pra que a criança (eu, eu mesmo, o futuro conquistador do mundo) fosse prejudicada, CONTUDO a ajuda de um puta pai (meu amigão, cara dos que eu mais admiro na vida) e de uma sólida família o guri aqui não foi deixado abater. Essas mensagens de que "ela está logo ali" "jajá ela volta" "isso vai ser bom pra nós e pra ela" foram tão marteladas que acabaram englobadas pela cabeça dessa miniatura de gente... E depois de anos essa ideias ainda persistem.

Em 2008, uma notícia bombástica chega com a velocidade dos correios em greve... Senhorita fodona aprovada no doutorado, novamente em Barcelona, em uma das universidades mais conceituadas do mundo no meio audiovisual... Mais 8 meses de aguardo, na despedida o carinha que se achava de pedra não chorou a vista da mãe... HÁ! Foi só ela embarcar e chegar um bucho gigante (o de vovô) pra se pendurar. Não aguentei, diluí-me em lágrimas. Essa segunda aventura em Barcelona vez foi melhor, possuíamos banda larga nos dois lados do atlântico, as condições financeiras estavam melhores - para isso vendemos um carro -  e as amizades do lado de lá foram preservadas. Após 8 meses de estudos ocorre a volta ao Brasil, e início de investigação.

Passa um ano de investigação, será que rola uma bolsa de estudos? OHH não! Maldito ministério da educação!!! Onde está o incentivo a formação dos NOSSOS profissionais? Após esse ano de trabalho duro minha mãe volta pra prestar contas na universidade (é sua terceira vez em Barcelona) e agora está começando a colher os frutos de seu esforço, acaba de ser aprovada com avaliação máxima do tribunal de professores... Rééééé fodona mesmo! Me orgulho muito.

E a saudade??? concluo que é um sentimento indecifrável, às vezes domina, consome; às vezes fecho os olhos e finjo que esse sentimento não existe. Não sei se sou blindado - se fosse certamente não pertenceria a esse mundo, seria uma poeira flutuando no universo, sem sentimento, sem nada... Agora ela tá lá! Dia 19/11 ela chega, vai chegar o meu amor e eu vou aqui tentando dominar essa saudade!

6 comentários:

  1. que post mais lindo Rafa :'(
    naquela enquete que tavas fazendo, voto nessa agora.. ;)

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  2. Coisa mais linda, mainha te ama bem muitao. A saudade do lado de cá é imensa, tu bem sabes. Mas já se acaba. Te queiro cariño!
    Só uma observaçao volto em 19/11.

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  3. nhoo, Raafa *-* fico feliz, sim, feliz por sua saudade, de tão grande, te ajudou tanto a crescer e ser a pessoa maravilhoosa que você é hoje. Ainda bem que sabe que não está sozinho, que seus familiares estão ai, mas não esquece de nós, pobres amigos que estão aqui pra tuuudo e pra qualquer hora.

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  4. valeu Velôzo, esse é "de tocar o coração" cara!!
    abraço

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  5. Mas eu sou muito bobona mesmo! chorei liiitros lendo tua postagem!! mãe e filho, amor e saudade, chuva e tempestade, calma.. continuo chorando(hahah) que molengaa! é que eu sei o quanto eu não aguentaria ficar longe da minha mãe!!

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  6. Admito que até eu chorei!
    Rapaz, difícil encontrar um menino que se explique tão bem em palavras... Louvável!
    Eu acredito, sinceramente, que Deus olha pros lugares certos, não como uma forma de acomodação, mas como incentivo.Não quero te martelar isso na tua cabeça como fizeram antes, mas é só importante que saibas mais isso! O esforço da tua família ja é reflexo na pessoa que és! Nunca te esqueces disso!

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